por D. Rose Hartmann, traduzido por k-Ouranos 333
Éris é famosa por ter causado, indiretamente, a Guerra de Tróia. O mito conta que, tendo sido intencionalmente esquecida quando foram enviados os convites para o casamento de Peleus e Tétis (a discórdia não é muito bem-vinda durante votos de casamento), ela desobedeceu e arruinou a festa da mesma forma. Ressentida, ela rolou o famoso Pomo da Discórdia pelo salão de danças. O Pomo (Maçã), de acordo com a lenda, possuía a inscrição “Para a Mais Bela” e era desejada por Atenas, Afrodite e Hera. Já que apenas uma das três poderia ser *A* Mais Bela, Páris foi chamado para ser o juiz do primeiro concurso de beleza. Afrodite venceu, subornando-o com a mulher mais bonita do mundo, que por acaso era Helena de Tróia, “posse” (como eram as mulheres naqueles tempos bárbaros) de outro homem. Assim começou a Guerra de Tróia. Que o rolar-de-pomo de Éris, ao invés da luxúria e do desejo de Páris receba a culpa pela Guerra, me parece bastante injusto - um plano, provavelmente, para sujar o nome da concubina do Caos. Talvez seja adequado fazer uma analogia com a história de outra concubina Caótica, Eva. Na tradição Judaico-Cristã, foi Eva que destruiu abruptamente o Status Quo, a realidade, o Éden. Como Éris, Eva rebelou-se contra os deuses (Elohim é um plural) através de seu desejoso e confiante ato de desobediência. Ao comer a infame maçã, ela causou o exílio do Jardim de si mesma e de seu namorado Adão (a fúria dos deuses foi a causa direta do verdadeiro exílio). Fora do seguro, cultivado, harmonioso e estático para dentro do selvagem, mutante, perigoso e discordante. É interessante perceber que Maçãs têm um papel importante tanto na história de Éris quanto na de Eva. É apenas coincidência que uma maçã, quando cortada horizontalmente, revele uma estrela de cinco pontas ou pentáculo (tente por si mesmo) - um símbolo eternamente temido pelos sistemas patriarcais? Muitos teóricos enxergam o mito da Queda como representante da passagem evolutiva da humanidade para longe da inocência (fé cega, obediência e dependência) e em direção da experiência (consciência a habilidade de auto-reflexão, a vontade de mudar e criar mudança); assim interpretada, a “queda” foi um lance de muita sorte, um rito de passagem, uma oportunidade de nos tornarmos nós mesmos. E, mesmo que a Guerra nunca seja algo prazeroso, a batalha em Tróia foi o estopim de muitas mudanças e progressos (isso sem mencionar um fértil mar de arquétipos e mito do qual artistas e poetas do passado e do presente fazem uso em suas pescarias).
Éris como uma Preliminar da Mudança Mágica. Magia, obviamente, lida com a reorganização da realidade do mago. E muito embora a Guerra nunca seja algo prazeroso, a batalha de Tróia serviu de estopim para muitas mudanças e progresso (sem mencionar um fértil mar de arquétipos e mitos no qual muitos artistas e poetas do passado e do presente costumam pescar). Éris como uma Preliminar da Mudança Mágica. Magia, obviamente, lida com a reorganização da realidade do mago. Como magos, nossa meta é mudar a nós mesmos, nossas consciências e nossas circunstâncias de acordo com nossa vontade. Através da prática mágica e do ritual, intentamos cultivar o poder necessário para manifestar tal mudança. A maioria das práticas mágicas pressupõe um modelo simpático do planeta ou do universo - uma teia de vida, se você quiser. A idéia de que as energias podem ser manipuladas baseia-se no reconhecimento de que, em certa dimensão ou em um estado mais sensível de percepção, todas as coisas são interconectadas - a idéia paradoxal de que somos Um, ainda que Muitos. Na realidade-túnel de nosso estado “normal” de consciência acreditamos ser autônomos, individuais e desconectados do todo, ou incapazes de perceber certos níveis de existência. Mas quando escolhemos alterar nossa realidade através de ritual, sexo, drogas, privação sensorial, ou o que você desejar, a realidade “normal” deixa de existir. Acho que aqueles de nós que passam muito de seu tempo no mundo-cotidiano-normal se dão conta que a consciência “normal” frequentemente sabota o sucesso mágico, servindo como um muro para bloquear a realidade simpática enquando nos bombardeia com dúvida, interferência, pensamento reacionário e crítica. Como Peter Carrol afirma enfaticamente no Liber Null, “estados alterados de consciência são a chave para os poderes mágicos”. A realidade mágica também pressupõe a existência de uma fonte de poder livre-para-todos (que tem seu centro em todos os lugares e sua circunferência em lugar nenhum), variadamente chamada de Mundo Arquetípico, a força vital, Vácuo, Atman, Tao, Anima Mundi, Espírito, Caos, etc. É desta coisa que nasce a magia, a inspiração e a genialidade. É a corente que nos conecta à mente antiga, à Grande Memória, aos Arquivos Akáshicos, ou ao Tempo dos Sonhos Aborígenes, possuindo tanto o potencial do futuro quanto a apeçaria do passado. É a força que, através do amalgamar e da aplicação da vontade consciente, nos permite falar a língua de nossos ancestrais primais: animais, insetos, plantas, algas, pedras, rios e, ainda mais longe, as estrelas, e, talvez, nossos eus futuros. Este modelo interconectado do universo, ou teia de vida, não se limita mais às pessoas de inclinações místicas/mágicas, mas é também um modelo escolhido por muitos físicos modernos, já que parece funcionar de acordo com o sistema científico baseado no Princípio de Inseparabilidade Quântica. O Teorema de Bell propõe o conceito de não-localidade, que percebe que, a nível sub-atômico, cada partícula se conecta com todas as outras partículas. A idéia de que a informação pode ser capaz de “viajar” mais rápido que a luz, ou “informação sem transporte”, poderia certamente explicar os conceitos de sincronicidade, coincidência mágica e telepatia. O Dr. David Bohm especula que o universo não é apenas não-local, mas holográfico. Este modelo se encaixa perfeitamente na idéia ancestral de que o Homem/Mulher, juntamente com tudo que existe, é um microcosmo do todo, contendo toda a informação do todo - passado, presente e futuro. Só se precisa recorrer a ele. Quando o mago liga-se” à centelha do Caos interior, e comunica Seu querer através da aplicação da vontade concentrada, ele adquire o poder para influenciar seu ambiente externo.
A Magia emprega o ritual para invocar a mente arquetípica (que é simplesmente a arte de sintonizar-se nos sinais “cósmicos” que normalmente deixamos passar), e expor e tornar acessível nossa fonte de poder - a energia potencial do Caos. Entramos em um estado “não-local” , onde nossas definições de realidade, nossas máscaras de personalidade, caem temporariamente por terra. Quem cremos ser em dado momento é sempre ficção, pois somos outra coisa um tempo depois; ou como Yeats afirmou, não podemos distinguir “o dançarino da dança”. Quando o círculo protetor dos auto-conceitos se dissolve, entramos em transe mágico. Éris nos prepara misturando nossos programas, nos confundindo e nos transportando no espaço da Não-Forma, o colo do Caos: Assim, nos encontramos ao alcance do poder mágico. Vazios de definições anteriores e altamente impressionáveis, utilizamos quaisquer métodos ou rituais que escolhermos para mudar o canal para uma realidade mais de acordo com nossa vontade, ou criar uma completamente nova. Podemos nos reprogramar, nos vestindo com novos sistemas de crenças ou realidades tão criativamente ou tão seguidamente QUANTO QUISERMOS (do modo que vejo, quanto mais melhor). Ao nos entregarmos a uma prática de cruci-ficções mágicas, de des-identificação e redefinição de nossos egos e realidades comuns, nossa realidade “normal” transforma-se em uma realidade “mágica”, e logo reconhecemos que somos nada, tudo, e alguma coisa, simultaneamente, e que “nada é verdadeiro, tudo é permissível”. Um ritual formal realizado neste estado Livre-de-Conceitos tem uma alta taxa de sucesso, evocando ou invocando quaisquer espíritos, anjos, demônios, deuses ou deusas, na forma e estilo que você esperar, e como você quiser. Ligado na fonte de seu poder - o Tanque Cósmico de Potencial - você pode desejar empregar sua vontade concentrada e sua imaginação, utilizando assim esta força para “carregar” seus instrumentos mágicos, talismãs e amuletos, ou para projetar seu desejo no Útero da Cornucópia do Universo. A vontade mágica é muito eficaz quando aplicada na dimensão do potencial (Caos), ainda mais, eu acho, do que quando aplicada aos mais densos planos astral ou físico, onde pode ser refratada por vontades opostas ou sabotada por nossos próprios processos mentais reacionários. Sua magia vai funcionar, então esteja certo de que você quer o que você tem vontade. Também ajuda ter algum símbolo de seu desejo à mão para se concentrar ou verbalizar, de modo que você não precise recuperar a consciência “normal” para lembrar o propósito de seu ritual. Um sigilo, palavra de poder ou imagem funciona bem.
Como se deve invocar Éris? Muitas e divertidas são as Maneiras. Há milhares de modos de invocar Éris. Você pode se devotar à meditação sobre a carta da Torre, ou, melhor ainda, desenhar ou pintar a sua própria. Ajuda sair de sua cabeça, onde existem todos seus programas, assim como as reações potenciais a seus programas atuais e futuros. Esqueça a mente; concentre-se em seu corpo. Antes de praticar rituais, feitiços ou outro trabalho mágico, prepare a você e a seu espaço quebrando a realidade “normal”. Dance um enlouquecido balé Erisiano, girando como um dervixe louco até que você não saiba mais que lado é qual, plante bananeira por uma hora, entregue-se à prática sexual prolongada ou tantra (é talvez a forma mais simples e mais prazerosa de alterar a consciência), ou transe com uma pessoa comum em circunstâncias incomuns. Lance-se em um estado emocional extremo (terror, devoção ou fúria) batuque até tornar-se a batida, entregue seu ouvido à música dissonante, ou olhe para uma pintura cubista até entendê-la. Prenda sua respiração ou tente técnicas de Kriya Yoga. Ria apenas pelo riso e nada mais. Fale bobagens ou pratique diálogos socráticos consigo mesmo. Se você invocar Éris em sua vida diária, ela tirará o tédio de tarefas mundanas e aumentará enormemente a velocidade de sua passagem à uma realidade múltipla e mágica. Uma boa maneira de começar e quebrar velhos hábitos e substituí-los por novos, então quebrar os novos e substituí-los, e assim por diante. Ou caminhar de forma diferente, falar com estranhos, agir “fora de si” (diga a seus amigos que você está fazendo uma expeeeriência), use roupas que não são do seu estilo, explore novas maneiras de trabalhar, coma comida exótica, coma no chão, coma com ferramentas, escreva com a mão que você não escreve normalmente, tente acreditar em idéias que você abomina (temporariamente), transe com alguém que não é seu “tipo”. Questione suas crenças sobre o mundo, suas idéias de si mesmo, seus objetivos e desejos: Seja brutalmente “honesto” consigo mesmo e implore a seus amigos para que façam o mesmo. Descubra onde você está e o porquê; você pode explorar sua “alma” com mais eficiência do que qualquer terapeuta. O que é importante é que você 1) reconheça as fundações, pisos e paredes de sua realidade “normal; e 2) dedique-se a demoli-las e construir novas. Para viver em uma realidade “mágica”, você deve trocar de canal, sem parar. Enquanto nos tornamos mágicos, as sincronicidades se tornam ocorrências comuns e os desejos costumam se realizar com tanta freqüência que o indivíduo começa a evitar desejar coisas sem cuidado. As coisas simplesmente se encaixam. Assim, nossa magia não se restringe mais ao tempo que reservamos especificamente para tais práticas; ao invés disso, nós nos tornamos magias. Éris, como a concubina do caos, ajuda nos oferecendo a des-orientação e a des-ilusão necessárias, de forma que possamos nos livrar mais facilmente das cascas que separam nossa centelha essencial, em toda sua antiga e maravilhosa luminosidade, de todo o resto do universo. E assim, nós nos damos conta de que “O Mundo é um Palco” e “Cada Homem e Cada Mulher é uma Estrela”. A Magia vive em tudo; você só precisa entrar em contato com suas próprias fontes. VOCÊ É MAGIA!
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Éris, a Concubina do Caos
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